A história do horror no cinema seria bem menos empolgante se não tivessem existido os memoráveis monstros da Universal. Até o início da década de 30, a Universal era um estúdio hollywoodiano sem muita importância, que prosperou e atingiu seu ápice graças às caprichadíssimas produções no gênero horror.
Frankenstein ( Fig.12 ) e Drácula (ambos de 31) foram os primeiros frutos deste fértil período, lançando os talentos de Boris Karloff e Bela Lugosi, os maiores astros do horror da época, e motivando diversas sequências. Inicialmente planejado para ter Bela Lugosi, Leslie Howard e Bette Davis nos papéis centrais, Frankenstein finalmente ganhou vida na pele de Karloff em sua primeira versão sonora. A maquiagem criada por Jack Pierce tornou-se uma imagem popular imediatamente associada ao monstro, com o topo da cabeça achatado e os pinos no pescoço. O trabalho de Pierce era protegido por direitos autorais para evitar que outros estúdios copiassem a maquiagem - e por algumas décadas cada um teve que se virar para criar um monstro completamente diferente...
O sucesso estrondoso do filme logo inspirou diversas sequências, sendo duas delas ainda com Karloff no papel do monstro: A Noiva de Frankenstein (Bride of Frankenstein, 35 ( Fig.13 ) , com dose dupla de Elsa Lanchester, como a jovem Mary Shelley no prólogo e depois como a criatura em versão feminina) e O Filho de Frankenstein (Son of Frankenstein, 39 ( Fig.14 ) , com Basil Rathbone - o mais famoso Sherlock Holmes do cinema - no papel título). Após Karloff, outros atores se revezaram na fantasia da criatura, começando com Lon Chaney Jr. em O Fantasma de Frankenstein (Ghost of Frankenstein, 42) e Bela Lugosi em Frankenstein Encontra o Lobisomem (Frankenstein Meets the Wolf Man, 43) ( Fig.15 ). Lugosi havia recusado o papel dez anos antes pelo fato de não ter nenhuma fala, mas as circunstâncias o obrigaram a aceitá-lo desta vez e ele acabou interpretando o monstro de maneira patética, numa
produção acidentada que chegou a provocar risos involuntários na platéia. Ironicamente, um dos desempenhos mais elogiados da carreira de Lugosi foi sua caracterização como o maquiavélico Ygor, o corcunda de pescoço quebrado de O Filho de Frankenstein, manipulando o rival Karloff.
Finalmente, A Mansão de Frankenstein (The House of Frankenstein, 44) ( Fig.16 ), A Mansão de Drácula (House of Dracula, 45) ( Fig.17 ) e a paródia Abbott e Costello Encontram Frankenstein (Bud Abbott - Lou Costello Meet Frankenstein, 48) tinham Glenn Strange vivendo a criatura. Hoje praticamente esquecido, Strange foi o ator que mais vezes vestiu a fantasia do monstro, tanto no cinema quanto na TV e em eventos. Ironicamente, quando Boris Karloff morreu em 1968, uma foto de Glenn Strange usando a maquiagem do monstro foi equivocadamente publicada em seu obituário!
Com a morte de Lon Chaney e após considerar atores como Conrad Veidt, Paul Muni e Ian Keith para interpretar o papel central de Drácula (Dracula, 31) ( Fig.18 ) , na primeira adaptação oficial do romance de Bram Stoker, a Universal escalou o astro romântico húngaro Bela Lugosi para eternizar a imagem do vampiro sedutor e misterioso. Ainda em seu país, Lugosi havia interpretado até Jesus Cristo no cinema, porém conseguiu criar com perfeição o mito do vampiro sem quaisquer recursos de maquiagem - nem sequer os caninos pontiagudos. A saga do morto-vivo continuou em filmes da Universal como
A Marca do Vampiro (Mark of the Vampire, 35) ( Fig.19 ) e
A Filha de Drácula (Dracula's Daughter, 36) ( Fig.20 ).
A galeria de monstros da Universal ainda incluía Boris Karloff como A Múmia (The Mummy, 32) ( Fig.21 ), novamente num soberbo trabalho de maquiagem, e um antipático Henry Hull encarnando o lobisomem em
O Homem Lobo (Werewolf of London, 35) ( Fig.22 ), que falhava em não conseguir com que a platéia se sensibilizasse com o drama do protagonista. Outro filme sobre um vilão de dupla personalidade - a nova versão de O Médico e o Monstro (Dr. Jekyll and Mr. Hyde, 32)
( Fig.23 ), dirigida por Rouben Mamoulian - deu um Oscar de Melhor Ator para o versátil Fredric March, astro já bastante respeitado em filmes mais "sérios".
Em O Corcunda de Notre Dame (The Hunchback of Notre Dame, 39) ( Fig.24 ), um desfigurado Charles Laughton desempenhou de forma impressionante o tocador de sinos Quasimodo, na melhor adaptação até hoje do melodrama de Victor Hugo.